
- Alô?
- Oi, não fala nada, só escuta. Sim, tenho plena
consciência de que são 2:32 da manhã, ou
melhor da madrugada, e que você odeia que te
acordem. Sei também que você tá com o coração
acelerado porque como sempre, o toque do seu
celular é estridente. Mas olha, estou fazendo tudo
isso por um bom motivo. Lembra da minha
amiga, a Gabriela? Então, ela me apresentou um
cara tão lindo, tão inteligente, alto, másculo, e
que usa meias referente aos pares. Ele tem dois
cachorros dóceis, e mora em um apartamento no
centro de São Paulo que é ma-ra-vi-lho-so. Mas
antes que você pense que eu liguei pra fazer
ciúmes, eu liguei porque eu vim aqui pra sacada
fumar, e comecei a chorar. Tava passando ”P.S:
eu te amo” na tv por assinatura, e sabe, eu
lembrei de quando deitei no sofá com você, e
reparei que você usava uma meia de cada par.
Você chorou igual criança assistindo, até que
aquelas suas duas cachorras monstras
resolveram brigar por causa daquele bichinho de
pelúcia verde, que você apelidou de melequinha.
Olha só, que coisa estúpida, eu fumando.
Fumando porque quero parecer mais cool e mais
descolada, mas estou chorando porque lembrei
que o melequinha era tão engraçadinho. Tá
vendo? Eu sou uma burra. Mas você, você
também é. Burro por me deixar ir embora, burro
por não lutar por mim. Te juro que só mais um
pedido para que eu ficasse, eu ficava, e ficava pra
sempre! Mas você, como sempre, disse que eu já
era grande demais pra decidir o que fazer da
vida. Mas vida, que vida? Vida sem você? Não
existe. O cheiro desse cara que a Gabi me
apresentou é de perfume importado, você sabe o
quando sou tarada por perfumes. Mas eu largaria
esse cheiro de Paris ou de banco de couro de
carro novo, não importa, pelo seu cheiro de
cebolas, após uma tentativa frustrada de um
jantar romântico. Tô chorando mais ainda. Por
que você não me pega no colo, diz a ele que sou
sua, e me leva pra sua casinha, meu indie, hippie,
sei lá, que tem cheiro de lavanda, hein? Hein? Já
se passaram 6 meses, vi suas atualizações nas
redes sociais. Vi você começando e terminando
relacionamentos como quem começa e termina
uma barra de chocolate. E eu não falei nada. Quer
dizer, até agora, porque você é um idiota, sabe
que me ama e não faz porcaria nenhuma. Mas
enfim, além de estar fumando e chorando, eu
também tô bebendo. Bebendo muito, mas nem
assim esqueço. Você sabe o quanto me faz falta?
Todos os poemas de Vinicius me lembram você, e
os toques, os sorrisos, as piadas, são tão sem
graça se não há você do meu lado, bagunçando meu cabelo e
mordendo meu pescoço. Mas tá bom, tô falando demais, né? Você
ainda tá aí? Tô falando tanto e nem reparei se a sua respiração tá
no outro lado da linha.
- Tô respirando sim. (risos).
- (risos) Que bom então. Desculpa te acordar, te dizer tudo isso, na
verdade, eu só tô um pouco cansada, esquece o que eu disse, eu
nem gosto mais de você…
- Que horas te busco?
- Agora.
- Tô indo, te amo.
- Vem logo, tá frio. Amo você também.
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